quinta-feira, 2 de abril de 2009

Foto da Leitura: "Rasga Coração"


Leitura do Texto: Rasga Coração de Oduvaldo Vianna Filho - Vianninha - no Teatro Arena - dia 11 de fevereiro de 2009...

"Chapetuba F. C." - Por Vanessa Frisso


Chapetuba - uma (re) visita ao teatro de Vianninha

Artigo de Vanessa Frisso para o blog Overmundo:
Apaixonante. Não me vem à cabeça outra palavra para descrever a experiência teatral que vivi no último final de semana. Primeiramente senti-me personagem e estudioso. Eu estava ali, no Teatro de Arena, hoje Teatro de Arena Eugênio Kusnet. Palco para muitas ações, artísticas, culturais, sociais, políticas. Ao entrar no teatro, senti um arrepio correr pelo corpo. Muita energia corre por ali.
É quase indescritível. Observar aqueles assentos, onde já se sentavam algumas pessoas, aguardando o início do espetáculo. E aquele tempo anterior ao terceiro sinal, quando a magia está prestes a acontecer, mas ainda sou eu mesma. Tempo de observar já o cenário do primeiro ato. Senti-me começar a viajar no tempo. Mas é apenas teatro.
Ao toque da campainha pela terceira vez consecutiva, as luzes da platéia se apagam, e uma transformação dá início. Não estou mais no teatro de Arena, Consolação, São Paulo. Estou na pequena cidade de Chapetuba, na pensão cuidada por Fina, que serve de concentração para o Chapetuba Futebol Clube, que naquele instante deixa de ser a brilhante dramaturgia de Oduvaldo Viana Filho, e passa a ser realidade diante de meus olhos.
O espetáculo vai envolvendo o expectador de tal maneira em um crescente, mas sem deixar de despertar em nós o sentimento, o pensamento e a crítica. Arte de verdade que mexe com os poros e com o espírito. Arte que transforma.
A peça, por mais que pareça, não fala de futebol. Fala de seres humanos. Sonhos, desejos, amores, paixões, ética, fé, esperança. Mas também fala de nossas fraquezas e nossas mazelas, tão humanas. As personagens que desfilam em nossa frente, criam vida nos corpos desses atores tão preparados e refletem muito mais que jogadores e seus dilemas.
O que parece força, pode ser defesa da fraqueza. O que parece timidez, pode ser receio da rejeição. O que parece ingenuidade, quase beirando a burrice, transforma-se em sabedoria. São esses homens brasileiros, cercados pela miséria e pobreza. Com um misto de desejo de ascensão social e a simples necessidade de sobreviver dignamente, criar uma família e ficar perto dos seus. Os anseios de sucesso e glória. E as inevitáveis frustrações que isso tudo pode causar.
Um retrato da sociedade brasileira através do Chapetuba Futebol Clube, seus jogadores, seus dirigentes, nossa imprensa esportiva. Com os bastidores desse campeonato de futebol, temos uma amostra do que nos levar a sermos corruptíveis. A necessidade, o medo, o ego.
Nessa montagem, 50 anos depois da estréia, percebemos um trabalho apurado, limpo, preservando ao máximo o texto original e seu momento histórico, sem perder um só fio da atualidade. Talvez pela naturalidade com que este jovem elenco, em sua maioria, desfila aos nossos olhos e ao mesmo tempo uma maturidade dramática que revela a mão de um diretor. José Renato, um dos fundadores do Arena, que pena não estava lá no sábado para que eu pudesse abraçá-lo e dizer o quanto estava feliz.
Não só recomendo como peço que todos assistam e apreendam um pouco. Há muito tempo não assistia a uma peça que me tocasse tanto, mas mais do que isso, que mostrasse teatro de verdade, feito por atores de verdade, com texto de verdade e direção mais que verdadeira.