Muito Boa!
Análise
Critica por Jair Alves
para
o Portal Macunaima
O espetáculo, Toda
Nudez Será Castigada nessa versão de 2012 do grupoTEATRO
CIDADE (São José dos
Campos), se transformou numa das mais belas homenagens ao dramaturgo
brasileiro, Nelson
Rodrigues, no ano do Centenário de seu nascimento. O traço que
faz a diferença é ter fugido dos efeitos fáceis que exploram a sexualidade, como
propaganda, tão comum em outras montagens. Esta encenação está muito longe
disso, assume o conteúdo original do jornalista pernambucano, denunciando as
entranhas do homem brasileiro suburbano da segunda metade do século XX. Todos os
componentes mais importantes na dramaturgia de Nelson Rodrigues estão presentes
na encenação com muita força e clareza, a começar pela cobiça, persuasão e, por
último, a traição como vingança ou punição. O quarteto central formado por Adriana
Barja, Andréia Barros, Vander Palma e Wallace Puosso é grande trunfo dessa montagem,
assinado por Cláudio
Mendel. Os demais atores estão num tom abaixo, no entanto, não
comprometem a força desse espetáculo, pelo contrário, fazem uma espécie de
contraponto da trama central envolvendo, como já dissemos acima, a safadeza, a
culpa e horror na exposição de suas entranhas. Esta diferença de tom nos fez
perceber, por exemplo, um detalhe sórdido e impressionante da alma humana
revelado pela peça quando "as tias" se apresentam uma patética aliança com "Geni",
quase ao final, com o intuito de proteger,"Serginho",
o jovem rebelde e sem nenhuma causa. Não é difícil se imaginar que tal
equilíbrio cênico só foi possível, a partir de anos da convivência comum entre
diretor e elenco. Até mesmo é possível notar na atuação da atriz, Izilda
Costa (a mais nova
no elenco), e Jean
de Oliveira(ator convidado) uma pequena diferença de
envolvimento no universo cênico. Isto reforça a tese de ser este um trabalho
essencialmente coletivo e permanente e, ainda, a principal qualidade do grupo
que parte agora, paralelamente à atual temporada ora analisada para mais um novo
e ousado projeto, desta feita no universo de Anton Checkov. O trabalho se
completa com a discreta atuação de Ana
Cristina Freitas e Conceição Castro, além dos colabores
eventuais como a de Madalena
Machado, (figurino) e Gilmar
Duenas (fotografia) que permitiram o belo
registro.